
Demência senil: o que é, sintomas e tratamento
20 de janeiro de 2020
É possível prevenir demência?
22 de julho de 2020Um estudo publicado recentemente na revista Neurology, conduzido pela Dra. Lisa Vermunt e seus colegas da Maastricht University (Holanda), trouxe uma perspectiva interessante para a compreensão do Comprometimento Cognitivo Leve (CCL).
O CCL é uma síndrome que está associada a maior risco de evolução para demência. Nesta síndrome, existe declínio cognitivo além do esperado para a faixa etária e para a escolaridade do paciente, mas não tão intenso e abrangente que seja suficiente para caracterizar uma demência. Em geral, esse prejuízo não traz maiores problemas para o dia a dia do paciente. Alguns estudos anteriores já haviam demonstrado que parte dos pacientes com diagnóstico de CCL conseguiam recuperar a cognição normal. A Dra. Vermunt queria entender melhor o que acontecia com esses pacientes.
No estudo que conduziu, 757 pacientes com diagnóstico de CCL foram acompanhados por cerca de 2 anos. Deste total, 77 pacientes (10%) haviam revertido para a cognição normal no final do acompanhamento. Deste subgrupo, 61 sujeitos foram acompanhados por mais tempo (3 a 5 anos). Ao final do intervalo, os pesquisadores observaram que 16 pacientes (24%) estavam novamente com CCL e 3 pacientes (5%) haviam evoluído para demência. Comparados com os que se mantiveram estáveis, os pacientes que voltaram a piorar eram mais velhos, tinham biomarcadores mais alterados e declinavam mais rápido nos testes cognitivos. Os autores do estudo consideraram que, se o intervalo de tempo fosse maior, talvez um número maior de sujeitos tivesse evoluído para CCL e demência.
Diante dos resultados desta pesquisa, é inevitável perguntar por quê, entre os pacientes que revertem o CCL, alguns permanecem estáveis. Segundo a Dra. Vermunt, uma possibilidade nestes casos é que o CCL seja secundário a quadros depressivos, reversíveis com o tratamento adequado. Outra possibilidade é que o nível de ansiedade muito elevada durante a avaliação cognitiva atrapalhe o desempenho do paciente, resultando em um diagnóstico equivocado de CCL. Uma outra pergunta importante diante dos achados do estudo é por quê alguns pacientes com doença de Alzheimer conseguem reverter transitoriamente o CCL. Os pesquisadores acreditam que o diagnóstico precoce, a estimulação cognitiva e o tratamento de sintomas depressivos associados ao quadro sejam explicações plausíveis.
Naturalmente, novos estudos precisarão acompanhar pacientes com CCL por intervalo de tempo maior para entender como eles evoluem, sobretudo aqueles que conseguem reverter o quadro e voltar à cognição normal. Do ponto de vista prático, diante da percepção de declínio de memória, o ideal é fazer um check up. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem reverter alguns casos, poupando transtornos desnecessários. E nos quadros irreversíveis, é possível estabelecer um prognóstico e planejar o tratamento a longo prazo.